Advogados, políticos e agentes culturais estimaram Rio Claro como referência regional na luta contra a intolerância racial e religiosa em painéis apresentados no 1º Ciclo de Debates “ONU Década Internacional de Afrodescendente”. Realizada na noite de quarta-feira (11) no Class Hotel, a apresentação fez parte das comemorações alusivas ao Dia de São Jorge, ou Dia de Ogum, e ao Treze de Maio, data da Abolição da Escravatura.
Com a ressalva de que ainda resta muito a ser feito pela integração social de afrodescendentes, os analistas avaliaram como conquistas do município suportes institucionais e sociais que contribuem para a harmonia étnica na cidade. Entre os itens destacados estiveram políticas públicas, atuação legislativa, desempenho da Ordem dos Advogados do Brasil local e ações sindicais, além de tradicionais atividades culturais e artísticas.
Com mediação do advogado Lázaro Lopes, o encontro reuniu os expositores: presidente do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial Francisco Quintino; assessora municipal de Integração Racial Kizie de Paula Aguiar; secretária-geral da OAB-RC Ionita de Oliveira Krugner; presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP Carmen Dora de Freitas Ferreira; presidente da Federação Umbandista Caminho dos Orixás, André de Moraes; advogada Rosa Catuzzo; presidente da OAB-RC Mozart Gramiscelli Ferreira; vereador Geraldo Voluntário; diretor do Fórum de Rio Claro Cláudio Luis Pavão; advogado Gustavo Perissinotto e vereador Juninho da Padaria.
Quintino e Carmen Dora assinalaram o racismo como fato objetivo na sociedade brasileira, destacando em suas observações prejuízos para afrodescendentes no mercado de trabalho. Os estigmas enfrentados por negros e mulatos diante as forças de segurança também foram salientados. Ambos fizeram referência ao Treze de Maio como data de alforria desassistida dos escravos. Kizie de Paula historiou a capacidade dos segmentos vítimas de discriminação.
Ionita Krugner, Mozart Ferreira, Cláudio Pavão e Gustavo Perissinotto alinharam a importância das instituições públicas e civis na luta contra qualquer tipo de intolerância e racismo tendo em visto o objetivo civilizatório da paz entre os povos. A OAB local foi citada como exemplo.
André de Moraes e Carmen Dora enfatizaram a importância de legislação específica para coibir atos de racismo e intolerância. Acrescentaram, porém, que pelo fato do preconceito ser um fato cultural o recurso legislativo não é suficiente. Segundo eles, é preciso trabalhar pela transformação cultural.
Para André, o exercício do preconceito resulta de pobreza espiritual e é lamentável que o tema ainda dependa de ser debatido, quando o ideal seria que já estivesse superado. Para ele, o resgate dos valores familiares, de respeito mútuo, deve ser estimulado a favor da justiça e da paz.
Geraldo Voluntário, Juninho da Padaria e Ionita Krugner concordaram em que a ação legislativa na cidade tem desempenhado papel importante. Destacaram a criação da Frente Parlamentar de Combate ao Racismo e de Igualdade Racial, por iniciativa de Geraldo Voluntário. Juninho listou a aprovação de leis instituindo o sistema de cotas no serviço público municipal e que garantem tolerância religiosa e racial. Ionita assinalou o significado cultural e artístico da instituição do Dia de Ogum, também por iniciativa de Geraldo Voluntário. Para os analistas, tais medidas correspondem ao protocolo da ONU para que esta seja observada como a década de afrodescendentes.
A noite contou com apresentação do músico angolano Abel Duerê, ao vocal, com Élcio Póvoa na percussão e Jonas Moncaio ao violoncelo. Com o mestre Cuíca, o grupo de capoeira “Unidos do Quilombo” fez mostra da dança e luta reconhecida como patrimônio universal. A mostra contou com a participação de mestre Gilberto, do grupo “Estrela da Libertação”, e a presença do grupo “Veleiro Negro”, do mestre Garoa.
No encerramento, Carmen Dora ilustrou o espírito de resistência e de religiosidade dos afrodescendentes ao entoar tradicional cântico espiritualista, que segundo ela explicou, era cantada pelos escravos durante o trabalho. “Apesar de todo o sofrimento, os negros nunca deixaram de agradecer a Deus pelo sol, pela chuva e pela natureza”, finalizou a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP.
Os eventos do período prosseguem até o dia 21 de maio. Desde a abertura da programação as atividades são acompanhadas por comitiva de nigerianos em visita a Rio Claro.
Programação
Festa anual ao orixá Ogum – 14 de maio – Sábado – 20 horas –- Avenida Doze nº 2248 – Jardim São Paulo – 31º aniversário do templo Vovô Serafim e Ogum Três Espadas.
Exposição “Ogum e Suas Origens Culturais” – Encerramento no dia 21 de maio – De segunda a sexta-feira das 9 às 12 horas e das 13h30 às 17 horas. Aos sábados das 9 às 13 horas. –Casarão da Cultura – Avenida 03 nº 568 – Centro.
Informações: (19) 3532-4099 – (19) 3534-4530 – (19) 35261306.