O mundo mudava lentamente, hoje ele dá “cambalhotas”, num processo de aceleração que a Educação deve acompanhar e, ao mesmo tempo, resistir quando se trata de guardar tradições preciosas como os valores da ética e solidariedade.
Muitos educadores gostam de começar o discurso com “no meu tempo não era assim”. A questão é que o único tempo de ação possível é o hoje e não o “meu tempo” e a geração que recebemos em sala de aula não é fruto apenas de nossas aulas. É uma geração acostumada a rápida linguagem do “whatsapp” e o professor corre riscos se repetir a cena por mais de cinco minutos.
Percebemos que a nossa realidade exige um educador elástico, de um tamanho quase impossível ao obrigá-lo a assumir características de psicólogo, sociólogo, pai postiço, mãe postiça, babá, assistente social e “expert” em sua área de conhecimento (ufa!).
Na outra ponta, os vestibulares poderiam contribuir de maneira mais efetiva ao exigir práticas de cidadania, além daquelas imediatamente ligadas a questões teóricas. E a população, de maneira geral, precisa se movimentar mais em direção à cultura e gritar como na música dos Titãs: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.
Assim a escola deve desenvolver o currículo básico, porém transcendê-lo com teatro, xadrez, música, astronomia e uma infinidade de outras possibilidades pedagógicas.
Para tal, é imprescindível discutir a questão do financiamento para a
universalização com qualidade do ensino, pois escola não pode ser “depósito de crianças”, daí a necessidade de efetivar o CAQi – Custo Aluno Qualidade inicial, ou seja, quantidade de recursos suficientes para a Educação plena.
É injusto, contudo, culpar apenas os estudantes pela “falta de cultura”, quando acontecem coisas como o fechamento de cinemas que exibiam filmes fora do grande circuito comercial.
Assim o educador falará cada vez mais para as paredes!
Devemos estar atentos ainda para as razões do sucesso educacional (discutíveis, é verdade) em países como Coréia do Sul, Finlândia e Japão. Em síntese é uma mistura de preocupação intensa das famílias, escolas bem equipadas, professores com remuneração digna, ambiente escolar que promove a arte e a cultura e governo amigo dos educadores. A receita é relativamente simples, mas não são ações fáceis, contudo, só assim conseguiremos que a nossa educação não seja o “ouro de tolo” como disse Raul Seixas ou um “museu de grandes novidades” como disse Cazuza.
Para tanto, é necessário a presença das famílias. Não há coisa que os educadores peçam mais hoje do que a família na escola, mas não apenas para criticar, vigiar, mas para participar de um processo que é dela também.
Outro trabalho importante é a valorização de todos os profissionais da Educação como as cozinheiras, merendeiras, inspetores, monitoras, colaboradoras da limpeza, dos serviços burocráticos etc. Deve-se acabar com a diferença de tratamento entre aqueles que realizam trabalhos diretamente ligados ao Magistério e outros ligados indiretamente, mas que contribuem decisivamente para o funcionamento das escolas.
Sobre a questão da sexualidade, é bom frisar que cabe a escola de acordo com a lei a tarefa de orientação sexual e não da DECISÃO SEXUAL, que é uma questão de foro íntimo, de decisão pessoal e nenhum educador, com certeza, pretende decidir a sexualidade de alguém, se é que isto é possível.
Lembrando que o educador não busca as questões de orientação sexual, estas questões lhe são trazidas pelos estudantes submetidos a um mundo em rápida transformação e grande parte desta pressão é repassada aos educadores.
Sábias são as palavras da Secretária Geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, a pastora Romi Bencke ao afirmar que: “os modelos de família de hoje são diferentes dos modelos de família do início do século XX, por exemplo. Não podemos mais dizer o que é um modelo de família aceitável ou não aceitável. Se em uma determinada família há amor, respeito, carinho e diálogo, pode-se dizer que ali existe uma família. Agora, se em uma família tivermos desrespeito, agressões, dominação de poder etc, pode-se dizer que ali temos uma família com problemas, independentemente de quem a compõe. É isso que a religião deve avaliar e contribuir positivamente para transformar: as relações humanas. Contribuir positivamente para uma cultura de paz. Há muitas histórias de alunos que não querem mais ir à escola porque sofrem discriminações as mais variadas. É uma forma de evasão escolar que precisa ser superada. A escola precisa ser um espaço de exercício de democracia e convívio com o diferente. Um lugar aberto, que promova discussões aprofundadas sobre todos os temas. Isso é formar cidadãos e cidadãs”.