O golpe de 1964 em seus aspectos locais e no país tem dupla programação no Plenário da Câmara Municipal de Rio Claro nesta sexta-feira (11)
Em palestra às 15 horas, o cientista social Benedito Tadeu César irá falar sobre o contexto nacional dos episódios de 50 anos atrás.

Benedito Tadeu Cesar
Após a palestra, ele gravará no Plenário documentário para o Arquivo Municipal sobre o tema. A atividade é aberta ao público. Cientista Social em Porto Alegre, Tadeu César é irmão de Antonio Humberto César, um dos dezessete suplentes de Rio Claro impedidos de tomar posse por efeito do golpe militar
A suplente de vereadora impedida de tomar posse em 1964, Sebastiana Diuri, falará sobre a cena política local durante as cassações pela Câmara Municipal. Ela também gravará para documentário do Arquivo Municipal na mesma tarde.
A programação será concluída com Sessão Especial às 19h30 da sexta-feira, quando a Câmara Municipal fará ato de desagravo a familiares de vereadores e suplentes em 11 de abril de 1964.
Na solenidade, Benedito Tadeu César irá falar em nome dos dezessete suplentes. Sebastiana Diuri falará em nome das mulheres militantes na política.
Precursora da presença feminina no exercício político, ela foi operária da Tecelagens Matarazzo de Rio Claro e sindicalista da categoria. Sebastiana é moradora em Amparo, município que lhe conferiu título de cidadania por serviços prestados nas áreas social e saúde.
Benedito Tadeu César é cientista social formado pela FFCLRC, mestre em antropologia social e doutor em sociologia e ciência política pela Unicamp. Professor na Universidade Federal do Espírito Santo (1977/1992) e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992/2010), Coordenador do Programa de Pós Graduação em Ciência Política da UFRGS (2009/2010). Diretor do Jornal Eletrônico Sul21 (2010/2012), Atualmente é diretor presidente do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais – InPrO, em Porto Alegre, RS.
Desagravo legislativo reabilita vítimas de cassação
Antes do Congresso Nacional, sob tutela militar, declarar que João Goulart não era mais presidente do Brasil, isto em 2 de abril, a legislatura de 1964-68 da Câmara Municipal, já no dia primeiro, manifestava irrestrito apoio à ordem militar.

Rio Claro 1964 - Passeata das panelas realizada pelo Clube da Lady em apoio ao regime militar.
Em trâmite concluído no dia 11, os vereadores Aníbal Fusetti e Irineu de Oliveira Prado foram cassados. O vereador José Crespo fora obrigado a renunciar sob ameaça de prisão. Dezessetes suplentes foram impedidos de tomar posse.
O expurgo atingia aqueles que defendiam a supremacia da Constituição sobre o golpe em curso. Irineu Prado e José Crespo se recusavam a assinar documento de apoio à posição golpista.
Em 2013 o Congresso Nacional anulou a decisão que destituiu João Goulart. Em 10 de março de 2014, a Câmara Municipal aprovou projeto da Mesa Diretora em desagravo aos cassados naquele 11 de abril em Rio Claro e sua reabilitação.
Irineu de Oliveira Prado
Radicado em Rio Claro desde 1950, Irineu de Oliveira Prado nasceu em Brotas, foi criado em Ribeirão Bonito e constituiu família em São Carlos. Aposentou-se no teto da carreira como chefe de trem em 1975. Diretor sindical, militava pela autonomia da representação trabalhista. Comandou três greves gerais de ferroviários sem incidentes. Em 1972, eleito presidente do sindicato, foi impedido de tomar posse.
Em 1963 foi eleito vereador pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do qual era fundador. Sua eleição marcou o recorde de 1003 votos dos quase vinte mil votos validos na disputa. Depois de cassado, foi reeleito por duas vezes, nas legislaturas sequentes.
Por sua defesa dos princípios constitucionais, das causas ferroviárias e trabalhistas ficou preso arbitrariamente por quinze durante os primeiros momentos do golpe. Foi liberado da prisão em Piracicaba por falta de acusação formal. Não respondeu a inquérito.
José Crespo
Natural de Rio Claro, José Crespo foi professor, bacharel em Direito e administrador de empresas. Foi pioneiro na formação da Central Elétrica de Rio Claro e da Cesp.
Sindicalista e político, foi eleito segundo suplente de vereador pelo Partido Democrata Cristão (PDC) para a legislatura de 1960 a 1964. Em seguida, foi eleito pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) para a legislatura de 1964 a 1968.
Convicto em não compactuar com o golpe, viu-se obrigado a renunciar ao mandato para evitar que permanecesse arbitrariamente preso. Sua mulher estava grávida e com a saúde comprometida pelo impacto emocional sofrido.
Na superintendência do DAAE, no período de 1977 a 1982, José Crespo administrou a expansão dos serviços de fornecimento de água e a construção da segunda estação de tratamento (ETA 2).
Em 1996, pela segunda vez superintendente do DAAE, exonerou-se do cargo. De espírito nacionalista e defensor da presença do Estado na prestação de serviços públicos, ele deixou a autarquia no momento em que se discutia sua privatização.
Devido à renúncia imposta, a memória de José Crespo foi expurgada da história legislativa. Sua imagem não foi incluída na Galeria de Fotos de ex-vereadores como deveria. A lesão à memória política foi saneada com a inclusão de sua imagem na mesma galeria em 2012, em iniciativa da Mesa Diretora por meio do Centro de Memória.
Suplentes cassados
Para evitar a posse de suplentes vinculados às causas trabalhistas e populares, a Câmara Municipal de 1964 impediu dezessete suplentes das siglas PTB, PSB e PR.
Diversos dos suplentes foram presos e vítimas de tortura psicológica. Pelo estigma arbitrário de terem vínculos comunistas, vários ficaram sem conseguir emprego formal na cidade durante anos. Houve quem precisou mudar de cidade. Não há informações sobre a trajetória de muitos deles.
Uma das suplências era de Sebastiana Diuri. Líder sindical da categoria na Indústria de Tecelagem Matarazzo, ela era filiada ao PSB. Hoje moradora em Amparo, naquela cidade Sebastiana recebeu título de cidadania por serviços prestados à comunidade. Em Rio Claro ela desponta como pioneira da participação da mulher na política.
A lista dos suplentes impedidos em sua posse incluiu: Alcindo Silva – Alfredo Lucitti – Antonio Albiazetti – Antonio de Almeida Rosa – Antonio Humberto César – David Moncaio – Domingos Antonio Teco – Herzílio Coriguazi Pereira Junior – Irineu Barroti – Irlandino de Mattos – Jedaias Norberto da Silva – Otávio Bueno – Raimundo Pina de Menezes Sebastião Rodrigues – Virgílio Lorenzetti – Waldomiro de Araújo.
O prefeito era Augusto Schmidt Filho. A Câmara Municipal era integrada por: Marcello Mesquita (presidente), Roberto César, Adhemar Catuzzo, Ângelo Dagnone, Anibal Fussete, Anibal Gulo, Antonio Maria Marrote, Dinael Marin, Evandro Mastricico, Fausto Pacheco Aguirre, Hélio Jorge dos Santos, Irineu de Oliveira Prado, Januário Sylvio Pezzotti, Joaquim Abdala, José Caprets, José Crespo, Manoel José Silva, Pedro Kury, Ribeiro Mancuso, Taufick Simão e Waldemar Karam.