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Proposta para se criar comissão avança e combate ao racismo tem debate com saldo positivo na Câmara

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Transformar o plenário do Legislativo em um espaço político de debates em busca de soluções para os problemas apontados pela comunidade. É nesta rota que a Comissão de Direitos Humanos presidida por Anderson Christofoletti dá o ritmo dos trabalhos desenvolvidos semanalmente na Câmara Municipal.

A discussão sobre o racismo no município foi motivada pela violência praticada contra Benedito Santana de Oliveira, 71 anos, no início deste mês. O assunto repercutiu ainda mais após relatos de membros da comunidade negra feitos na semana passada no Legislativo. As falas apontaram que o racismo não se limita à violência física, disseram as mulheres negras, ao retratarem discriminações sofridas no comércio local.

Diante do quadro, a Comissão de Direitos Humanos convocou grupo para reunião, na última quarta-feira, dia 24, com o objetivo de abrir espaço para que as partes envolvidas pudessem entrar em entendimento e juntas buscar alternativas de solução.

A Associação Comercial e Industrial de Rio Claro (Acirc) foi representada por Clóvis Deboni e o Dorival Bueno da Costa falou pelo Sindicato dos Funcionários do Comércio. Ambas as entidades externaram à Comissão de Direitos Humanos preocupação como o comércio foi citado na reunião realizada na Câmara no último dia 17. Segundo eles, não se pode generalizar a situação expondo toda a categoria.

Dorival Bueno, que conta com 52 anos de atividades comerciais em Rio Claro, disse nunca ter presenciado um caso de discriminação. Ressaltou que a cidade cresceu nos últimos anos e que não descarta a ocorrência de preconceito racial, porém, reafirmou que nunca presenciou ou teve notícia de um caso na cidade.

Clóvis Delbone tornou público que a Acirc foi surpreendida com as declarações feitas por representantes da comunidade negra por nunca ter recebido qualquer reclamação ou denúncia de discriminação racial no comércio da cidade. Disse ainda que a entidade espera receber lista com nomes dos estabelecimentos para que de uma forma pacífica possa tomar providências.

Falaram em nome da comunidade negra Divanilde de Paula, presidente do Conerc (Conselho da Comunidade Negra), Bell Rezende (assessora da Referência e Atendimento à Mulher) e Kizie de Paula (assessora de Integração Racial). Mais uma vez elas relataram, com detalhes, casos que viveram e outros que tiveram conhecimento de racismo no comércio local.

A presidente do Conerc assinalou na reunião que ao escolher um fogão em uma loja do comércio local teve de ouvir do vendedor: “Este não cabe no seu bolso”. Disse ainda que é infelizmente é comum nos supermercados quando um negro passa perto dos caixas com o carrinho de compras cheio de mercadorias ouvir: “Quero ver pagar”.

O presidente Anderson Christofoletti, após ouvir a todas as informações, destacou que a função da Comissão de Direitos Humanos é possibilitar aos envolvidos em linhas diversas do mesmo assunto a abertura de espaço para que possam se reunir e de forma adulta discutir o assunto.

Diretor municipal de Políticas Especiais, Luiz Carlos Rezende, mais conhecido como Curinga, após confirmar que no país, no Estado e no município existem demandas em relação ao preconceito racial também discursou no sentido que a generalização do tema não é o caminho correto.

Curinga agradeceu à Comissão dos Direitos Humanos pela iniciativa de reunir o grupo na Câmara Municipal e propôs aos presentes a criação de uma comissão formada por representantes da Acirc, sindicatos (patronal e funcionários) e das assessorias municipais (Integração Social, Atendimento à Mulher e Juventude). “Esta comissão teria a missão de atuar nos casos identificados de preconceito racial. Desta forma, os casos de racismo no comércio local seriam trabalhados pontualmente”, explicou Curinga recebendo apoio da Comissão de Direitos Humanos.

Representantes da Acirc e do sindicato dos funcionários, após a fala de Curinga, voltaram a dizer que defendem qualquer iniciativa que inviabilize a generalização dos fatos. O presidente Anderson Christofoletti avalia que intermediação feita na Câmara foi de fundamental importância já que além de cumprir a função que é da Comissão de Direitos Humanos possibilitou aos envolvidos unificar discursos em busca de ferramenta eficaz de combate ao preconceito. “A comissão segue de portas abertas para discutir os problemas que ocorrem no município e em muitos casos afetam de forma dura o cotidiano do ser humano”, completou.

Ao ter o seu pedido de fala atendido, o jornalista Carlos Marques apontou que o combate à discriminação racial tem de começar pelos poderes constituídos e citou, por exemplo, que na administração municipal, no atual governo, não há sequer um negro nomeado em cargo de comando.

Também participaram da reunião os vereadores Agnelo Matos, João Zaine, Maria do Carmo Guilherme e Raquel Picelli. Geraldo Voluntário, que esteva em São Paulo, foi representado pelo seu chefe de Gabinete, João Paulo de Oliveira. Também estiveram presentes: Camila Cardoso, assessora municipal da Juventude; Heloísa Maria Cunha do Carmo, secretária municipal da Educação, entre outras.