A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal reuniu-se na tarde da última quarta-feira, dia 17, para discutir o tema “Racismo e Discriminação Racial” motivado pela violência contra Benedito Santana de Oliveira, homem negro de 71 anos que foi espancado na noite do último dia 5 no Centro de Rio Claro.
Presidente da Comissão, Anderson Christofoletti apresentou na reunião o conteúdo de estudo de alunos de Direito onde constam três níveis de preconceito racial: individual, institucional e cultural. No individual, o membro de um grupo se sente superior ao de outro. No institucional, o preconceito está instalado em empresas, igrejas, escolas, entre outras entidades. No terceiro nível, a herança cultural é vista como superior a do semelhante.
Ainda na primeira etapa do encontro, a comissão apresentou vídeo do Pastor Martin Luther King de 1963 considerado por muitos, nos campos político e religioso, como uma das principais ações de combate ao racismo na América.
Presidente do Conselho da Comunidade Negra de Rio Claro (Conerc), Divanilde Aparecida de Paula tornou público que Benedito de Oliveira está muito traumatizado com o ocorrido. Criticou a classificação do Boletim de Ocorrência ao afirmar que a violência não se trata de Lesão Corporal e sim de uma Tentativa de Homicídio. “Precisamos ir ao Ministério Público, se for necessário, para exigir a alteração da natureza da ocorrência. O senhor Benedito não foi assassinado por muito pouco. Se a Lesão Corporal for mantida em breve os autores da violência estarão soltos, impunes”, afirmou a presidente do Conerc acrescentando que a comunidade negra de Rio Claro não busca vingança, mas sim coibir a violência.
Ainda em sua fala Divanilde destacou a importância da mobilização de vários segmentos da comunidade local para protestar contra o ocorrido com Benedito de Oliveira, porém, ressaltou que há outros tipos de preconceitos raciais que são praticados diariamente de forma velada no município.
“Não somos vistos. Não há vagas no mercado de trabalho. Muitos currículos aprovados vão parar na lixeira quando o responsável pela contratação verifica na entrevista que se trata de uma pessoa negra. No comércio a situação é gravíssima. Muitas vezes somos atendidos pelos seguranças das lojas enquanto as vendedoras ‘batem papo’. Se somos atendidos, os seguranças ficam andando atrás da gente dentro das lojas”, desabafou Divanilde dizendo ainda que nos anúncios de empregos nos jornais as empresas pedem que a pessoa tenha “boa aparência”.
Assessora municipal de Referência à Mulher, Bel Rezende ratificou as palavras de Divanilde ao afirmar que “os negros são, realmente, discriminados no comércio local”. Ela estendeu o amplo leque de racismo velado às relações de trabalho onde o negro sofre discriminações diversas dia após dia. “Para ter uma ideia da gravidade, muitas lojas separam as fichas de clientes que moram no bairro Terra Nova, ou Parque dos Monstros como muitos infelizmente dizem”, afirmou.
Osvaldo Luiz de Oliveira, pastor da Igreja do Evangelho Quadrangular em Ferraz, externou experiência pessoal ao destacar que por 25 anos sentiu na pele o preconceito racial ao atuar como funcionário efetivo de uma agência bancária. A seu ver, os negros, de forma geral, para reivindicarem seus direitos precisam unir forças e ter uma participação maior nos movimentos organizados. “Temos de ocupar espaços na cidade. Somente assim poderemos dar um basta no racismo seja ele declarado ou velado”, analisou.
Diante do exposto por representantes da comunidade negra, Anderson Christofoletti adiantou que vai agendar reunião com representantes da Associação Comercial e Industrial de Rio Claro, a Acirc. “Não podemos cruzar os braços, nos calar diante deste assunto grave discutido aqui hoje”, defendeu. Presente na reunião Raquel Picelli completou: “Temos de ter a coragem de levar essa discussão até eles (Acirc)”.
Uma das autoras da Lei Municipal 4225/2011 que institui em Rio Claro o Dia Municipal Contra a Homofobia e de Combate ao Preconceito, Raquel Picelli disse aos presentes que trata-se de uma ferramenta jurídica legal que pode abrir espaço para a discussão de vários assuntos e busca por soluções.
Geraldo Voluntário, no encerramento do encontro, ressaltou que a violência contra Benedito de Oliveira será levada ao conhecimento dos governos estadual e federal. “Precisamos buscar mecanismos que possam fechar as portas de Rio Claro para o racismo. O que aconteceu foi inaceitável, abominável. Concordo com a Divanilde, estamos diante de uma tentativa de homicídio e não de uma lesão corporal. É preciso ajudar a família do senhor Benedito principalmente no que diz respeito à contratação de um advogado”, finalizou.
No encontro a posição da Igreja do Evangelho Quadrangular, na discussão sobre o combate ao racismo, foi expressada na carta lida pelo Pastor Elias. Também participaram da reunião: vereadores Júlio Lopes e Calixto, Silvana Salina Chil (Amor Exigente), pastores e membros da Igreja do Evangelho Quadrangular Aparecida Cardoso, Flausina da Cruz, Maria de Fátima Vargas e Antônio Tozzi, Laurianny Santos Lais (Comunidade Resgate e Vida) e Rosa Santos (Assessorias).